Quando o tempo para! – Fotografia de alta velocidade
Há muito tempo que queria abordar a técnica da fotografia de alta velocidade. Mas senti-me compelido a não só abordá-la como a tentar explicá-la.
Esta vertente da fotografia permite congelar momentos que o ser humano, se bem que os veja, não os consegue observar. São situações da física clássica que as limitações do nosso corpo, não só dos órgãos sensitivos da visão mas principalmente da capacidade de processamento cerebral, não permitem captar as múltiplas interações que podem coexistir numa fração de segundo.
Quando digo fração de segundo não me estou a referir a meio, um quarto ou um décimo ou mesmo centésimo de segundo, estou a falar de acontecimentos com uma duração de 30.000, ou mais, avos de segundo.
Esta técnica consegue ultrapassar as limitações físicas do mecanismo de obturação das melhores máquinas fotográficas, que na melhor das hipóteses conseguem captar 8000 avos de segundo, e mesmo assim recorrendo a um processo «artificial» para o conseguir.
O obturador das máquinas fotográficas SLR (Single Lens Reflex), digitais (DSLR) ou analógicas, é o responsável pelo intervalo de tempo em que o sensor (ou película) é sensibilizado pela quantidade de fotões que o diafragma da lente deixa passar.
Este obturador é constituído por duas cortinas, uma superior e outra inferior, que em conjunto conseguem reproduzir a paragem (ou não) do tempo que vemos na maior parte das fotografias.
Tal como a limitação da velocidade linear de um pistão no seu percurso pelo cilindro de um motor de combustão de um automóvel, também o obturador de máquina fotográfica está regido segundos os mesmos princípios da física. Assim, a velocidade linear das cortinas do obturador não podem ultrapassar determinados limites, pelo que têm que recorrer a uma processo engenhoso para permitir velocidade superiores.
Num obturador, antes de pressionáramos o botão de disparo, a cortina inferior encontra-se recolhida na base e a superior completamente distendida a partir do limite superior (ver figura 1)
Quando pressionamos o botão de disparo a cortina superior recolhe expondo o sensor (ou película, nas máquinas analógicas) à luz (ver figura 2). Quando termina o tempo predefinido de exposição a cortina inferior sobe e impede que mais luz entre em contacto com o sensor (ver figura 3), acabando, desta forma, com o tempo de exposição.
O tempo que cada uma das cortinas leva a percorrer os 24 mm de um sensor Full Frame (35 mm de largura por 24 mm de altura) permite que o sensor esteja completamente exposto durante 1/200 a 1/250 s (figura 2). Ou seja, o sistema de mola do obturador consegue fazer mover cada uma das cortinas a uma velocidade estonteante (espantoso para uma simples mola).
Bem… mas como ultrapassar esta velocidade uma vez que o limite da física não permite mais? Simples!! (engenhoso, talvez…). O «truque» é fazer com que assim que a cortina superior comece a subir a inferior acompanhe-a, deixando uma pequena janela por onde a luz possa entrar e sensibilizar o sensor (figura seguinte), desta forma iludindo a realidade e permitindo velocidades de obturação de cerca de 1/8000 s!
E se esta velocidade não for suficiente? Como ultrapassar este limite físico do obturador?
Então teremos que trabalhar com algo que tem uma velocidade muito maior: a luz!! A luz, mas como? A resposta: criando-a, com um Flash!
O Flash é um acessório comum às máquinas fotográficas. Este emite num curto intervalo de tempo uma determinada quantidade de luz, e emite-a exatamente quando o obturador se encontra completamente aberto.
Assim, o objetivo é iluminar o acontecimento apenas com a luz do flash que é produzido apenas durante 30.000 avos de segundo, ou menos, e assim congelar o acontecimento. Para isso, precisamos que a luz que sensibiliza o sensor seja apenas a produzida pelo flash, anulando a luz continua existente, quer reduzindo-a quer limitando a sua entrada através do diafragma da lente.
O resultado será algo assim: